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Um texto de autoria de Gabriela Costa, terapeuta e doula, preocupada com o bem estar biopsicossocial de mães, bebês e famílias que estão fazendo travessias. Sim, todas as travessias possíveis desta vida.
Atualmente, muito se fala sobre parto humanizado. Por todos os lados da internet temos informações técnicas e já virou um jargão de profissionais do parto a frase "o item mais importante do enxoval é informação". Entretanto, além destas informações não estarem distribuídas de forma tão capilarizada quanto nós, profissionais humanizados da Obstetrícia, pensamos estar, as vezes não damos tanta luz a questões tão importantes quanto conversar sobre indicações reais x fictícias de cesariana, fisiologia do parto ou formas não farmacológicas de manejo da dor.
Fato é que o parto é um evento fisiológico que é impactado por aspectos biológicos, emocionais, psíquicos e sociais. Muitos dos desfechos possíveis que observamos nas últimas semanas que antecedem o parto e no momento do parto em si, são construídos ou não ao longo da gestação, ou melhor, da avida inteira desta mulher, deste núcleo familiar.
O parto primeiro precisa existir na sua cabeça e coração. Você precisa saber que a probabilidade de você conseguir trazer seu bebê ao mundo de forma fisiológica é muito, muito, muito maior do que a de você precisar vivenciar o nascimento do seu bebê por via cirúrgica. Entretanto, você pode ficar tranquila, pois vocês têm a cesariana na retaguarda, como último recurso tecnológico de cuidado e nascimento, caso seja necessário, quando as outras estratégias foram acionadas e se esgotaram. Outro jargão "cesáreas salvam vidas", sim salvam sempre que bem indicadas.
Eis um desfecho que me incomoda: mulheres convencidas de que seu "tempo de espera terminou", "que o seu parto esta demorando muito", "que seu parto não está evoluindo". Caminhos trilhados por muitas mulheres, muitas vezes estimulados por profissionais, inclusive alguns que se apresentam como humanizados, que adoram a frase "SE tudo estiver bem, SE você tiver passagem, SE, SE, SE, você vai ter o parto normal", colocam o parto fisiológico como o desfecho mais improvável (?). Caminhos que poderiam ser diferentes com mais quantidade e qualidade de informação, que aumenta a chance de encontrar profissionais realmente humanizados e, o ponto que quero trazer para luz neste artigo: conhecimento sobre a questão do Tempo e Controle na hora do parto.
Conversar ao longo da gestação sobre Tempo, algo tão abstrato, volátil, singular é importantíssimo e escrevo este texto inspirada na primeira conversa que tive com uma amiga que está gestante e que vou acompanhar na gestação e parto. Na nossa primeira conversa já sinalizei que esta é uma das minhas maiores preocupações existentes em relação a ela. Uma hora é uma hora. Mas você acabou de vivencia a última hora diferente de mim. Temos sensações, julgamentos e memórias diferentes a respeito dela. Para alguém pode ter sido insignificante, para mim altamente produtiva, interminável para a pessoa que acabou de receber a noticia do falecimento de um ente querido.
Quanto tempo dura a gestação? Quanto tempo dura cada fase do trabalho de parto? E o trabalho de parto? A hora dourada dura 1 hora? Quando tempo vai levar para sentir o tal "amor" pelo meu bebê? São perguntas presentes nas cabeças e corações de todas as gestantes.
E digo que o seu conceito e a sua forma de lidar com o Tempo vai impactar o desfecho da sua gestação, parto, puerpério e amamentação. Já vi isto mais vezes do que gostaria. Recentemente estava conversando com uma mulher que está gestante sobre isto. Ela já viajou para o Japão. Fiz um paralelo com ela sobre a diferença do preparo para encarar a viajem de avião para Florianópolis, em comparação à viagem para o Japão. Raros partos, ainda mais na primeira gestação, podem ser comparados a viagens de avião para Florianópolis, costumam se aproximar à viagem para o Japão. Se preparar para 1 hora de voo é diferente de se preparar para 25 horas, não é?
Assim como o avião tem os seus parâmetros para voar até o Japão, num trabalho de parto, se tem padrões para acompanhar para saber se você e seu bebê estão bem e podem seguir vivenciando o Tempo com tranquilidade. Existem exames, padrões, métricas que dizem se vocês estão bem durante o trabalho de parto. Sabe quem deve se preocupar com isto? O/a obstetra, enfermeira obstetra e/ ou obstetriz, você não. Inclusive, quando mais você desligar a parte cerebral do raciocínio lógico, das tomadas de decisões, melhor! Sabe o que aumenta as chances de você se permitir "perder o controle", ter certeza ABSOLUTA do lugar, acompanhante e equipe que está POR você. Sim, construir um vinculo de afeto, confiança e parceria ao longo da gestação com as pessoas que estarão com você no momento do seu parto (depois de se certificar se estes profissionais são REALMENTE humanizados, nada de apego a pseudos humanizados).
Se prepare para a viagem que esta por vir, não tenha pressa, se certifique de que estará num ambiente seguro e saiba que o fim desta viagem vai chegar, independente das horas, do horário, você conhecerá o seu bebê.